8 de dez. de 2017

Quando não se pode mais deixar de Escrever


Quando não se pode mais deixar de Escrever
Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais/UnB

A situação política ia tão mal governada que não escrevi nada depois do golpe contra a Dilma Rousseff, porque queria deixar a poeira abaixar. Mania de historiador, dar tempo ao tempo, pois ele é o mais sábios dos conselheiros (Plutarco).
Passaram alguns meses, Michel Temer tomou posse, e continuei sem escrever uma linha. Depois das delações o golpe ficou evidente. As máscaras caíram e veio à tona a construção de anos de um sistema de corrupção pela patifaria governamental, parlamentar e jurídica.
Escrevi um artigo “O golpe ‘temerdoriano’ ou o 18 brumário brasileiro” para a Revista de la Red Intercátedras de Historia de América Latina Contemporânea (RIHALC). Publiquei (http://del-vigna.blogspot.com.br/2017/04/o-golpe-temerdoriano-ou-o-18-brumario.html) e fiquei atento aos sucessivos episódios repulsivos, pelos quais caminham a história política brasileira. Meu instinto sociológico – guiado pelo tempo dos acontecimentos – superou o tempo da longa duração da história e escrevi outro texto.
O tempo, que tinge nossos cabelos de branco, nos ensina a escrever sem ódio ou mágoa. Tenho lido artigos inflamados de adjetivações e frases cansadas que se fazem parecer inteligentes. Respeito as diversas posições políticas. Creio que sem essa diversidade a história política não avançaria. Só me desagrada a grosseria, que ofende a língua portuguesa e a inteligência dos leitores.
Ressaltei, no artigo para a revista mexicana, que a análise ficaria inacabada “considerando que a disputa se prolongaria até as eleições presidenciais de 2018”. Essa impressão se mantém atual porque não indicarão os rumos futuros. A vitória de uma coalizão partidária, que se manterá no poder por um determinado período, perderá a força progressista ou conservadora. Isso porque a História se faz no cotidiano. 
Desde que Stefan Zweig escreveu o livro “Brasil, País do Futuro”, a intelligentsia nacional tem deitado sobre berço esplêndido esperando o futuro. Desde que a Graúna, de Henfil, perguntou “que país é este?”, as réplicas foram tantas que ninguém sabe a resposta certa ou cada um tem a sua, pessoal ou de classe.
A cada quatro anos os eleitores são convocados a votar e, em seguida, se deprimem, porque não votaram em um projeto de futuro. Votaram como indivíduos atomizados e se esqueceram dos nomes dos candidatos escolhidos.
A mídia se apressa em reforçar que o sistema eleitoral e político só precisa ser reformado e não revolucionado. Que a compra e venda de votos entre parlamentares e Executivo é normal e a prática da corrupção existe em todo mundo. É uma deslavada lorota, mas os ancoras que anunciam tal mentiras, como verdades, são protegidos pelas telas da TV. A história ensina que o que é construído pelo homem, pelo homem pode ser demolido.

Somos a ponta do iceberg que há mais de 500 anos reclama um Titanic. Os sistemas são tão momentâneos como são as nossas opiniões sobre a conjuntura atual. A diferença é que nós refazemos nossas convicções, enquanto que os que detém o poder de manter o sistema reafirmam a certeza de estarem apenas cumprindo o dever ao jogar bombas de gás e atirar, com balas de borracha, em nossos filhos. 

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