Quando não se pode mais
deixar de Escrever
Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais/UnB
A situação política ia tão mal governada
que não escrevi nada depois do golpe contra a Dilma Rousseff, porque queria
deixar a poeira abaixar. Mania de historiador, dar tempo ao tempo, pois ele é o
mais sábios dos conselheiros (Plutarco).
Passaram alguns meses, Michel Temer
tomou posse, e continuei sem escrever uma linha. Depois das delações o golpe
ficou evidente. As máscaras caíram e veio à tona a construção de anos de um
sistema de corrupção pela patifaria governamental, parlamentar e jurídica.
Escrevi um artigo “O golpe ‘temerdoriano’
ou o 18 brumário brasileiro” para a Revista de la Red Intercátedras de Historia
de América Latina Contemporânea (RIHALC). Publiquei (http://del-vigna.blogspot.com.br/2017/04/o-golpe-temerdoriano-ou-o-18-brumario.html) e fiquei atento aos sucessivos episódios repulsivos,
pelos quais caminham a história política brasileira. Meu instinto sociológico –
guiado pelo tempo dos acontecimentos – superou o tempo da longa duração da
história e escrevi outro texto.
O tempo, que tinge nossos cabelos de
branco, nos ensina a escrever sem ódio ou mágoa. Tenho lido artigos inflamados
de adjetivações e frases cansadas que se fazem parecer inteligentes. Respeito
as diversas posições políticas. Creio que sem essa diversidade a história
política não avançaria. Só me desagrada a grosseria, que ofende a língua
portuguesa e a inteligência dos leitores.
Ressaltei, no artigo para a revista
mexicana, que a análise ficaria inacabada
“considerando que a disputa se prolongaria até as eleições presidenciais de
2018”. Essa impressão se mantém atual porque não indicarão os rumos futuros. A
vitória de uma coalizão partidária, que se manterá no poder por um determinado período,
perderá a força progressista ou conservadora. Isso porque a História se faz no
cotidiano.
Desde que Stefan
Zweig escreveu o livro “Brasil, País do Futuro”, a intelligentsia nacional tem deitado sobre berço esplêndido esperando o futuro. Desde
que a Graúna, de Henfil, perguntou “que país é este?”, as réplicas foram tantas
que ninguém sabe a resposta certa ou cada um tem a sua, pessoal ou de classe.
A cada quatro anos os eleitores são convocados a
votar e, em seguida, se deprimem, porque não votaram em um projeto de futuro. Votaram
como indivíduos atomizados e se esqueceram dos nomes dos candidatos escolhidos.
A mídia se apressa em reforçar que o sistema
eleitoral e político só precisa ser reformado e não revolucionado. Que a compra
e venda de votos entre parlamentares e Executivo é normal e a prática da
corrupção existe em todo mundo. É uma deslavada lorota, mas os ancoras que
anunciam tal mentiras, como verdades, são protegidos pelas telas da TV. A
história ensina que o que é construído pelo homem, pelo homem pode ser
demolido.
Somos a ponta do iceberg que há mais de 500 anos reclama
um Titanic. Os sistemas são tão momentâneos como são as nossas opiniões sobre a
conjuntura atual. A diferença é que nós refazemos nossas convicções, enquanto
que os que detém o poder de manter o sistema reafirmam a certeza de estarem apenas
cumprindo o dever ao jogar bombas de gás e atirar, com balas de borracha, em
nossos filhos.
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