Cuidado com aquele
que bate à Porta
Edélcio Vigna, Doutor em Ciências Sociais/UnB
A sociedade não se reproduz a
partir de um único discurso. Ao contrario, o pensamento único paralisa o
desenvolvimento e a criatividade. A imutabilidade social é um discurso
ideológico do homem conservador e subalterno. A humanidade se desenvolve por
meio de situações conflitivas, que emergem como oportunidades de crescimento
ético e moral.
Os discursos rarefeitos, como o
jurídico e médico, por exemplo, estão restritos às sociedades dos discursos
como os mais parciais e, portanto, necessitam de significações superadas para
se justificarem nos tempos atuais. O discurso médico, além do diagnóstico, já avançou
ao recepcionar novas técnicas e outras terapias, em especial as orientais.
O advogado e seu discurso “Juridiquês”,
são duas criaturas siamesas produzidas pelo século XVIII, que se originou frente
aos abusos das monarquias constitucionais. Desde o setecentismo, os advogados,
com raras exceções, vem se aventurando no campo político. Porém, mesmo
vivenciando a prática política ainda lhes falta competência teórica para
intervir nesse espaço.
Quando um advogado ou um médico
toma a palavra para fazer análise conjuntural é um Deus nos acuda. Há advogados
e médicos, que se destacaram como políticos brilhantes, mas essa competência
não é atribuída a todos esses profissionais. Isso não é um demérito, é apenas
uma comprovação.
Observe como alguns juristas da
mais alta corte se tornam objetos de chacotas nacional. O problema não é
utilizar, de forma equivocada, categorias da ciência política, mas de desconsiderar
que por trás de cada expressão há um significado ideológico, que não permite a
neutralidade. A análise conjuntural não é neutral e dela ninguém sai impune, nem
os cientistas políticos.
A retórica é arte de ludibriar o
outro. Essa arte, que os pseudo-intelectuais utilizam para impressionar, foi
expulsa do paraíso dos discursos junto com os sofistas gregos. A retórica é uma
técnica utilizada pelos vendedores de ilusões. Portanto, cuidado com aqueles
que batem à porta.
O neosofista, o novo enganador,
utiliza-se de dados que não podem ser comprovados. Fala do que desconhece sem o
mínimo constrangimento. Afirma absurdos e relaciona o que não pode ser
relacionado, certo que a torrente de tolices, que lhe sai da boca ou da
escrita, impede o pensamento crítico e lhe garante a impunidade.
São exímios em afirmar coisas no
vazio da realidade. São como os loucos, que veem em toda manifestação a
comprovação da sua verdade. Ao juntar essa patologia com a fúria de tudo que
lhe é diferente ou que lhe contradiz, teremos o rancoroso indivíduo da direita ou
da esquerda política. Há algo de hitleresco nestas pessoas. Ambos tem como
porto final o totalitarismo.
O novo discurso emancipador,
ideológico porque propõe uma ação mudancista, tem como objetivo propor
caminhos, saídas ou consensos. O discurso conservador, por seu lado, rarefaz as
possibilidades de que o desigual sobreviva, estreita as portas e aferrolha as
janelas, para que o ar do amanhã não circule e revolva o calendário.
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