8 de dez. de 2017

Cuidado com aquele que bate à Porta



Cuidado com aquele que bate à Porta
Edélcio Vigna, Doutor em Ciências Sociais/UnB 

A sociedade não se reproduz a partir de um único discurso. Ao contrario, o pensamento único paralisa o desenvolvimento e a criatividade. A imutabilidade social é um discurso ideológico do homem conservador e subalterno. A humanidade se desenvolve por meio de situações conflitivas, que emergem como oportunidades de crescimento ético e moral.

Os discursos rarefeitos, como o jurídico e médico, por exemplo, estão restritos às sociedades dos discursos como os mais parciais e, portanto, necessitam de significações superadas para se justificarem nos tempos atuais. O discurso médico, além do diagnóstico, já avançou ao recepcionar novas técnicas e outras terapias, em especial as orientais.

O advogado e seu discurso “Juridiquês”, são duas criaturas siamesas produzidas pelo século XVIII, que se originou frente aos abusos das monarquias constitucionais. Desde o setecentismo, os advogados, com raras exceções, vem se aventurando no campo político. Porém, mesmo vivenciando a prática política ainda lhes falta competência teórica para intervir nesse espaço.

Quando um advogado ou um médico toma a palavra para fazer análise conjuntural é um Deus nos acuda. Há advogados e médicos, que se destacaram como políticos brilhantes, mas essa competência não é atribuída a todos esses profissionais. Isso não é um demérito, é apenas uma comprovação.

Observe como alguns juristas da mais alta corte se tornam objetos de chacotas nacional. O problema não é utilizar, de forma equivocada, categorias da ciência política, mas de desconsiderar que por trás de cada expressão há um significado ideológico, que não permite a neutralidade. A análise conjuntural não é neutral e dela ninguém sai impune, nem os cientistas políticos.

A retórica é arte de ludibriar o outro. Essa arte, que os pseudo-intelectuais utilizam para impressionar, foi expulsa do paraíso dos discursos junto com os sofistas gregos. A retórica é uma técnica utilizada pelos vendedores de ilusões. Portanto, cuidado com aqueles que batem à porta.

O neosofista, o novo enganador, utiliza-se de dados que não podem ser comprovados. Fala do que desconhece sem o mínimo constrangimento. Afirma absurdos e relaciona o que não pode ser relacionado, certo que a torrente de tolices, que lhe sai da boca ou da escrita, impede o pensamento crítico e lhe garante a impunidade.

São exímios em afirmar coisas no vazio da realidade. São como os loucos, que veem em toda manifestação a comprovação da sua verdade. Ao juntar essa patologia com a fúria de tudo que lhe é diferente ou que lhe contradiz, teremos o rancoroso indivíduo da direita ou da esquerda política. Há algo de hitleresco nestas pessoas. Ambos tem como porto final o totalitarismo.


O novo discurso emancipador, ideológico porque propõe uma ação mudancista, tem como objetivo propor caminhos, saídas ou consensos. O discurso conservador, por seu lado, rarefaz as possibilidades de que o desigual sobreviva, estreita as portas e aferrolha as janelas, para que o ar do amanhã não circule e revolva o calendário. 

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