Cryptolocker e ransomware, conhece?
Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais/UnB
Ainda precisamos invejar a carapaça do jabuti.
Porque mesmo criando uma couraça tecnodigital continuamos vulneráveis. Temos a
falsa impressão de que o mundo fica lá fora, fora da matriz que construímos
cotidianamente. O nosso refúgio, construído de bits e pelos modelos dissipáveis
ou auto-organizáveis, é somente um jogo de sequencias infinitas.
Despejamos fotos no instagram, no facebook, recebemos cliques de autoestima e respondemos com emojis.
Mas, em verdade nosso corpo social está sendo roubado. Estamos sendo amputados
dos sentimentos. O ciberespaço suprime o planeta. A globalização é incapaz de
nos dar a territorialidade que necessitamos para existirmos como identidade
cultural.
Onde está aquela casa cheia de
sonhos? Realidades vividas, experiencializadas, por nossos pais e por nós desde
pequenas quimeras que fomos? Estamos atravessando um patamar que oferece uma
tirania cibernética muito mais hedionda que o esquecimento.
Eu me recuso a ser formado por
bits. Minhas células se rebelam contra o cyber-darwinismo. Para fugir da
indiferença em relação ao outro, não posso eliminá-lo, mas colocá-lo ao meu lado.
A bolha informática, similar a
rosa de Hiroshima, não nos ameaça como ficção, mas com a realidade da crise da
neteconomia, que não tem lugar nem espaço para explodir. “No dia em que todos
os bancos e bolsas do mundo estiveram interconectados, o crack será
necessariamente mundial”, alerta o filósofo Paul Virilio.
O principal problema não é o cyber
isolamento que dessujeita, que criou o não-sujeito, mas a ilusão da interação
protetora. Nos muitos cliques existe o nada. O que há não é o caos, mas a
desordem. No caos há possibilidade criativa, a desordem é estéril. A violência
ganha nova forma. O trágico espetacular tem início com a destruição das torres
gêmeas.
Quem é o alvo do rinocibernético? Os aeroportos, bancos, governos e
você. Em maio, o “cryptolocker”, um vírus de resgate, bloqueou
mais de 200 mil computadores em 150
países, entre eles a Inglaterra, Rússia, Dinamarca, França, Ucrânia, e Espanha.
Outro vírus o “ransomware”, sequestra os arquivos e só
os libera mediante pagamento em moedas virtuais. Um ataque cibernético consume
milhões de dólares. Para evitar o “Bug do Milênio” foram gastos US$ 7 bilhões.
Não nos basta a carapaça do jabuti, símbolo de
resistência cultural brasileira, que desafia o tempo com a astucia
que a floresta lhe proveu, para nos livrar da crise da neteconomia. A pergunta
não é se ela vai acontecer, mas quando acontecerá? Enquanto o armagedom não vem
é melhor atualizar seu dicionário com os termos do novo tempo.