8 de dez. de 2017

Elites discutem apoio a Lula


Elites discutem apoio a Lula
Edélcio Vigna, doutor Ciências Sociais/UnB
As elites dominantes estão discutindo o apoio a Lula. As confederações industriais, as associações de banqueiros internacionais e as multinacionais de serviços e investimentos estão recompondo suas posições com respeito as eleições presidenciais de 2018.
As assessorias dessas empresas estão repensando os fatos políticos ocorridos desde o impeachment de Dilma Rousseff. Para eles o jogo das grandes elites foi o de substituir Dilma por Temer, para que este executasse as políticas regressivas necessárias e, em seguida, voltar com Lula para que este retomasse (ou retome) o modelo capitalista popular de consumo.
Dilma não poderia implementar as políticas recessivas, pois colocaria em risco a candidatura de Lula, que preencheu as expectativas do mercado financeiro e industrial internacional. A elite internacional teve que apostar em duas linhas temerárias em tempos diferentes: colocar em marcha uma manobra arriscada como a substituição de Dilma por Temer; e depois, impedir que Lula sofresse (ou sofra) alguma sanção que o impeça de se reeleger em 2018.
Não interessa para as multinacionais o tipo de mercado nacional restritivo que as políticas recessivas desenvolvem, porque não estimulam o consumo de média e baixa renda. O mercado em vez de se expandir, ele se contrai impedindo um lucro crescente no mercado interno. Os novos ricos, que se beneficiaram com a expansão do mercado na época anterior, não capitalizam o mercado interno, pois preferem fazer compras em Miami e na Europa.
Esse gasto no exterior, da nova classe endinheirada, prejudica o desempenho das franquias internacionais e das multilatinas, que preferem a volta do mercado consumidor de média e baixa renda. Diante aprovação da reforma trabalhista, que era o maior empecilho, em termos de custos sociais, essas empresas estão avaliando positivamente a volta de Lula, como uma retomada do mercado consumidor, com juros baixos.
A elite internacional não confia nos nomes que estão sendo colocados como candidatos a presidentes, independentemente de partido político. Lula já fez um acerto, em 2004, com os grandes do mercado internacional e, por isso, é um nome confiável, que cumpre os acordos realizados. Os demais nomes são incógnitas, em termos de gestão política, e o mercado não suporta surpresas.
Neste contexto, de acordo com os analistas internacionais, Lula manteria a margem de 30% de intenções de votos e não provocaria abalos internos no PT, uma vez que sua corrente interna majoritária “Construindo um Novo Brasil”, não se opõe à implantação de um modelo de mercado capital-consumidor.
Neste panorama, caso se concretize a candidatura de Lula, os demais concorrentes terão poucas chances de vitória. Agora a disputa passa a ser jurídica e vai continuar até a última hora, pois mesmo condenado Lula poderá recorrer e garantir sua permanência no jogo eleitoral.
Os especialistas concluíram que é preciso esperar a decisão do TRF, em Porto Alegre, que ainda vai analisar os recursos do Ministério Público e da defesa de Lula. As convenções partidárias que escolherão os candidatos serão realizadas a partir de 20 de julho, e Lula, mesmo registrado, pode ser cassado pelo TRF. Caso concorra e ganhe a eleição ainda pode ter seu diploma anulado. Só não pode ser cassado caso assuma a presidência no dia 02 de janeiro de 2019.
A Ciência Política nos ensina que pouco se sabe sobre as inumeráveis variáveis que interferem sobre o resultado final de um conflito, no qual Maquiavel já não passa de um amador. Essa é uma disciplina, que não compete a diletantes, é uma matéria em que uma das variáveis principais, no sistema capitalista contemporâneo, não é a ideologia, mas o mercado internacional.


Cuidado com aquele que bate à Porta



Cuidado com aquele que bate à Porta
Edélcio Vigna, Doutor em Ciências Sociais/UnB 

A sociedade não se reproduz a partir de um único discurso. Ao contrario, o pensamento único paralisa o desenvolvimento e a criatividade. A imutabilidade social é um discurso ideológico do homem conservador e subalterno. A humanidade se desenvolve por meio de situações conflitivas, que emergem como oportunidades de crescimento ético e moral.

Os discursos rarefeitos, como o jurídico e médico, por exemplo, estão restritos às sociedades dos discursos como os mais parciais e, portanto, necessitam de significações superadas para se justificarem nos tempos atuais. O discurso médico, além do diagnóstico, já avançou ao recepcionar novas técnicas e outras terapias, em especial as orientais.

O advogado e seu discurso “Juridiquês”, são duas criaturas siamesas produzidas pelo século XVIII, que se originou frente aos abusos das monarquias constitucionais. Desde o setecentismo, os advogados, com raras exceções, vem se aventurando no campo político. Porém, mesmo vivenciando a prática política ainda lhes falta competência teórica para intervir nesse espaço.

Quando um advogado ou um médico toma a palavra para fazer análise conjuntural é um Deus nos acuda. Há advogados e médicos, que se destacaram como políticos brilhantes, mas essa competência não é atribuída a todos esses profissionais. Isso não é um demérito, é apenas uma comprovação.

Observe como alguns juristas da mais alta corte se tornam objetos de chacotas nacional. O problema não é utilizar, de forma equivocada, categorias da ciência política, mas de desconsiderar que por trás de cada expressão há um significado ideológico, que não permite a neutralidade. A análise conjuntural não é neutral e dela ninguém sai impune, nem os cientistas políticos.

A retórica é arte de ludibriar o outro. Essa arte, que os pseudo-intelectuais utilizam para impressionar, foi expulsa do paraíso dos discursos junto com os sofistas gregos. A retórica é uma técnica utilizada pelos vendedores de ilusões. Portanto, cuidado com aqueles que batem à porta.

O neosofista, o novo enganador, utiliza-se de dados que não podem ser comprovados. Fala do que desconhece sem o mínimo constrangimento. Afirma absurdos e relaciona o que não pode ser relacionado, certo que a torrente de tolices, que lhe sai da boca ou da escrita, impede o pensamento crítico e lhe garante a impunidade.

São exímios em afirmar coisas no vazio da realidade. São como os loucos, que veem em toda manifestação a comprovação da sua verdade. Ao juntar essa patologia com a fúria de tudo que lhe é diferente ou que lhe contradiz, teremos o rancoroso indivíduo da direita ou da esquerda política. Há algo de hitleresco nestas pessoas. Ambos tem como porto final o totalitarismo.


O novo discurso emancipador, ideológico porque propõe uma ação mudancista, tem como objetivo propor caminhos, saídas ou consensos. O discurso conservador, por seu lado, rarefaz as possibilidades de que o desigual sobreviva, estreita as portas e aferrolha as janelas, para que o ar do amanhã não circule e revolva o calendário. 

Quando não se pode mais deixar de Escrever


Quando não se pode mais deixar de Escrever
Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais/UnB

A situação política ia tão mal governada que não escrevi nada depois do golpe contra a Dilma Rousseff, porque queria deixar a poeira abaixar. Mania de historiador, dar tempo ao tempo, pois ele é o mais sábios dos conselheiros (Plutarco).
Passaram alguns meses, Michel Temer tomou posse, e continuei sem escrever uma linha. Depois das delações o golpe ficou evidente. As máscaras caíram e veio à tona a construção de anos de um sistema de corrupção pela patifaria governamental, parlamentar e jurídica.
Escrevi um artigo “O golpe ‘temerdoriano’ ou o 18 brumário brasileiro” para a Revista de la Red Intercátedras de Historia de América Latina Contemporânea (RIHALC). Publiquei (http://del-vigna.blogspot.com.br/2017/04/o-golpe-temerdoriano-ou-o-18-brumario.html) e fiquei atento aos sucessivos episódios repulsivos, pelos quais caminham a história política brasileira. Meu instinto sociológico – guiado pelo tempo dos acontecimentos – superou o tempo da longa duração da história e escrevi outro texto.
O tempo, que tinge nossos cabelos de branco, nos ensina a escrever sem ódio ou mágoa. Tenho lido artigos inflamados de adjetivações e frases cansadas que se fazem parecer inteligentes. Respeito as diversas posições políticas. Creio que sem essa diversidade a história política não avançaria. Só me desagrada a grosseria, que ofende a língua portuguesa e a inteligência dos leitores.
Ressaltei, no artigo para a revista mexicana, que a análise ficaria inacabada “considerando que a disputa se prolongaria até as eleições presidenciais de 2018”. Essa impressão se mantém atual porque não indicarão os rumos futuros. A vitória de uma coalizão partidária, que se manterá no poder por um determinado período, perderá a força progressista ou conservadora. Isso porque a História se faz no cotidiano. 
Desde que Stefan Zweig escreveu o livro “Brasil, País do Futuro”, a intelligentsia nacional tem deitado sobre berço esplêndido esperando o futuro. Desde que a Graúna, de Henfil, perguntou “que país é este?”, as réplicas foram tantas que ninguém sabe a resposta certa ou cada um tem a sua, pessoal ou de classe.
A cada quatro anos os eleitores são convocados a votar e, em seguida, se deprimem, porque não votaram em um projeto de futuro. Votaram como indivíduos atomizados e se esqueceram dos nomes dos candidatos escolhidos.
A mídia se apressa em reforçar que o sistema eleitoral e político só precisa ser reformado e não revolucionado. Que a compra e venda de votos entre parlamentares e Executivo é normal e a prática da corrupção existe em todo mundo. É uma deslavada lorota, mas os ancoras que anunciam tal mentiras, como verdades, são protegidos pelas telas da TV. A história ensina que o que é construído pelo homem, pelo homem pode ser demolido.

Somos a ponta do iceberg que há mais de 500 anos reclama um Titanic. Os sistemas são tão momentâneos como são as nossas opiniões sobre a conjuntura atual. A diferença é que nós refazemos nossas convicções, enquanto que os que detém o poder de manter o sistema reafirmam a certeza de estarem apenas cumprindo o dever ao jogar bombas de gás e atirar, com balas de borracha, em nossos filhos.