6 de dez. de 2016

O Mendigo, de Brecht, e o Hitler, da Alemanha: um grito de alerta!




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O Mendigo, de Brecht, e o Hitler, da Alemanha: um grito de alerta! 

Ambiente da Peça

A peça “O Mendigo ou O Cachorro Morto”, de Bertold Brecht, foi escrita entre 1919 e 1920, após o final da Primeira Grande Guerra (1914-1918). Os países vencedores impuseram à Alemanha, em uma conjuntura de derrota e a maior crise econômica de sua história, severas penalidades por meio do Tratado de Versalhes. O imperador foi deposto e o país se tornou em uma república democrática – a República de Weimar, que durou até 1933, quando os nazistas tomaram o poder impondo um regime totalitário.

Essa contextualização é importante, pois a obra não resulta apenas da vontade individual do autor, mas é ditada pela atmosfera espiritual do momento histórico. Jung diz que o significado da obra de arte é educar o espírito da época. “Partindo da insatisfação do presente, a ânsia do artista recua até encontrar no inconsciente de modo mais efetivo a carência e a unilateralidade do espírito da época”. Dessa forma, a arte representa um processo de autorregulação espiritual do seu tempo.
A observação de Jung é central para entender o significado da peça “O Mendigo”. Está claro que Brecht não escreveu esta peça apenas como um ensaio influenciado pela comédia popular da época. O texto não pode ser encarado como um simples exercício literário para aprimorar os seus instrumentos de trabalho. Essas leituras simplistas reduzem o valor da obra e parecem desconhecer o vínculo entre o autor e a sua contemporaneidade. Esse tipo de leitura reduz a peça a uma relação causal entre o texto e uma suposta teoria marxista. Os críticos, na ânsia de descobrir os símbolos das classes sociais por detrás dos personagens, ao se depararem com a resistência de identificação, têm como prática considerá-lo como obra menor. Isso ocorreu com “O Mendigo”.

A história é implacável


A história é implacável

A história é implacável. Melhor, os historiadores é que escrevem a história, mas o fazem de acordo com sua posição social. Assim, há a visão da elite e do povo, uma visão dos vencedores e dos vencidos.

Por uma necessidade existencial me formei em História e depois continuei a estudá-la. Tive o privilégio de me formar no Festival de Woodstock, testemunhar a queda do regime militar e de dois processos de impeachment.

No primeiro impeachment - o do Collor - os historiadores apontam o consenso geral sobre a culpa e o crime de responsabilidade. No segundo, o da Dilma, não havia consenso nem entre os políticos, juristas e nem na sociedade. O crime de responsabilidade que era um fato concreto subjetivou-se. Esvaneceu durante a fatigante discussão no Senado, na mídia e entre as pessoas comuns.

Tantas leis e legislações foram citadas, desenterradas e revividas que em vez de esclarecer, confundiram. A repetição das perguntas levavam as cansativas mesmas respostas. As afirmações e contra afirmações se afinavam como duas espadas a se duelarem.

No meio de cada palavra do discurso estava à democracia como uma criança a brincar de esconde-esconde. Assisti aos debates, resguardado pela tela da TV. O observador invisibiliza-se diante da incerteza dos fatos.

Como historiador buscava uma posição menos apaixonada, como intelectual de esquerda me indignavam os discursos que se assemelhavam aos discursos de Iago. Os shakespearianos atribuem a Iago uma longa lista de adjetivos: infiel, traidor, traiçoeiro, perfidioso, desleal, sombrio, invejoso.

Marco Antônio, ao discursar no funeral de Júlio César, disse ao povo que se estivesse disposto a levá-los ao “motim e a violência, falaria mal de Brutus e de Cassius. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados”, finalizou ironicamente.

Este artigo possui algo de crítico e de histórico, mas não esconde a indignação do autor. Julga sem pretender julgar e atribui crédito à geração de historiadores que virá depois de nós.

Parafraseando Brecht posso encerrar afirmando que aqueles que surgirão da maré em que perecemos que se lembre dos tempos sombrios de que pode escapar, quando falar das nossas fraquezas.

Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)


Colômbia e Brasil: em busca da variante comparável

Andia Rey[1], T.S. e Vigna, E[2].
Resumo:
Este artigo é o resultado de uma entrevista com a Dra. Tatiana Samay Andia Reys, investigadora da Universidad de los Andes, Bogotá, Colômbia, sobre a situação dos movimentos sociais na Colômbia comparada com as práticas do movimento social brasileiro. Nesta condição, a história do social em ambos os países se entrecruzam e se distanciam a todo o momento tecendo um cenário onde a comparação se explicita no detalhe e não no geral. A globalização e a integração regional latino-americana perpassam o depoimento de Andia Rey e se revela como variáveis indissociáveis para que se possa compreender, ainda que de forma imprecisa, a organização de ambas as sociedades. Este artigo revela que há pesquisas de campo que se tornam necessárias de serem compartilhadas para contribuir com estudiosos que estão trabalhando sobre o mesmo tema. Como entrevistador, tradutor e interprete exclui do texto minhas perguntas, porque considero importante a linearidade na construção do artigo.
Palavras-Chaves: Colômbia, Brasil, movimento social, integração regional, globalização.

Introdução
Na Colômbia os movimentos sociais sempre estiveram associados à resolução da questão agrária. Muitos dos acadêmicos que fazem pesquisas se concentraram nos movimentos agrários e, por isso, o vinculo com a guerrilha ficou mais evidenciado. O vinculo provocou a divisão da mesma gente e uns tomaram a via pacífica e outros tomaram a via das armas, mas estão lutando a mesma luta. O que se passou é que a guerra se tornou a forma mais visível e mais marcada na sociedade colombiana e deslegitimou os movimentos sociais. A história da esquerda na Colômbia com a existência da ELN e FARC fez com que as esquerdas e movimentos pacíficos fossem facilmente estigmatizados como simpatizantes da guerrilha. Isso ocorre hoje em dia e a história de criminalização se repete e este argumento é uma forma fácil de eliminar a discussão.

Globalização e Integração Regional: a importância das redes sociais nacionais, regionais, internacionais e transnacionais


https://drive.google.com/drive/folders/0B6SvzY3stmtTNjJlNmZiYWQtMzY5Ni00Yjg2LThkNzItYjY4ZDk3ZmJmNGRm

Globalização e Integração Regional: a importância das redes sociais nacionais, regionais, internacionais e transnacionais[1]


Edélcio Vigna[2]

RESUMO
Este artigo se propõe a relacionar, do ponto de vista do conceito de sistema-mundo moderno de Wallerstein e da teoria de processo político de Tarrow e Tilly, a questão da integração regional latino-americana como um dos desdobramentos políticos do processo de globalização do mercado, controlado pelas grandes corporações dos Estados centrais, que possibilitou às redes sociais heterogêneas a percepção de uma abertura de oportunidade e ameaça política que as conduziu pelas múltiplas trajetórias da transnacionalidade. A abordagem metodológica utilizada é qualitativa e histórica.
Palavras-chave: Sistema-mundo; Aliança Social Continental; redes transnacionais.

RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo relacionar, desde el punto de vista del concepto del moderno sistema mundial de Wallerstein y la teoría del proceso político Tarrow y Tilly, el tema de la integración regional de América Latina como uno de los acontecimientos políticos en el proceso de globalización de mercado, controlado por grandes corporaciones de los países centrales, lo que permitió las redes sociales heterogéneos la percepción de una ventana de oportunidad y amenaza política que llevó a los múltiples trayectorias de la transnacionalidad. El enfoque metodológico es cualitativo e histórico.
Palavras-chave: Sistema-Mundo; Alianza Social Continental; redes transnacionales.



 “A descoberta de que a terra se tornou mundo, de que o globo não é mais uma figura astronômica, e sim o território no qual todos se encontram relacionados e atrelados, diferenciados e antagônicos – essa descoberta surpreende, encanta e atemoriza”.
Octávio Ianni, 1995:13.
I)                  Introdução
Esse temeroso encantamento de Ianni é uma percepção concreta, ou seja, “é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e a percepção é pressuposta por eles” (Merleau-Ponty, 1999:06). A interrelações entre os fatos materiais e imateriais vão continuamente se desdobrando na medida em que o processo de desenvolvimento do modo de produção capitalista vai reinventando as formas de apropriação de acordo com a divisão internacional do trabalho e a expansão das forças produtivas em um cenário globalizado (Dobb, 1977:72).  O capitalismo promove e é promovido pela contínua revolução tecnológica, cujo impacto sobre a forma de produção, distribuição e consumo, é associado aos saltos qualitativos na área da comunicação e informação. Esse desenvolvimento do capitalismo reinventa novas fronteiras e redesenha o mapa mundial sem dissolver os Estados nacionais. Os Estados nacionais continuam, nesta composição do sistema-mundo contemporâneo “a serem os atores fundamentais da realidade em que vivemos”, de acordo com Carlos Eduardo Martins (2001:17). Essa capacidade das forças sociais capitalistas de articular mecanismos hegemônicos sem necessariamente destruir o modo de produção e as culturas tradicionais facilita a sua expansão que vai se impondo por meio do aumento da escala de produção junto ao mercado internacional. O capital, ao se impor em todas as dimensões, repagina o mapa mundial do final do século XX ao desbaratar os impérios coloniais e abrir espaços para novas formas de exploração, que começam a se consolidar no século XXI. A nova configuração do mercado econômico global e os processos de internacionalização do capital estabelece novo marco de regulação do mercado internacional, que tem como base os tratados de livre comércio (TLC) e os blocos de integração regional.