27 de mar. de 2017

Ética do submundo


O que se pode esperar da crise político-econômica que se avizinha? Havia uma das regras da quadrilha era não delatar os companheiros. Essa ética demarcava o comportamento ético do submundo.

A bandidagem mudou com o tempo. Os quadrilheiros que assaltam o tesouro público roubam o sonho da juventude que quer estudar; a confiança das famílias que lutam para sair da pobreza e a esperança dos doentes que procuram a cura nos hospitais públicos.

Esses são os réus da Lava-Jato que tem na regalias na prisão. Fazem valer suas alianças com os poderosos. O ex-senador Luís Estevão, de Brasília, desacatou o Diretor da Papuda por ter diminuído suas regalias. Vejam, só!

O Superior Tribunal Federal (STF), sob as pressões políticas, demora a cumprir o rito judiciário. Os integrantes do STF são “indicados” pelo presidente da República e “sabatinados” pelos senadores. Nos países desenvolvidos os juízes do STF são diretamente eleitos.

Entrar na lista de candidatos ao STF e ficar é dívida com os políticos. As teses comprovam a estreita relação entre política e judiciário. Toda decisão judiciária deve ser considerada sob o ponto de vista dos interesses políticos.

Entramos no terreno da dúvida. A eleição para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, por exemplo, é uma porta giratória: sai um e entra o outro do mesmo grupo. A sociedade cobra seus direitos a saúde, educação e trabalho.  Da tribuna os parlamentares discursam cinicamente demonstrando que o governo está cumprindo a Constituição e o Estado de Direito.

A reação à operação Lava-Jato tem exposto os nomes das autoridades, que se beneficiaram com a corrupção. Há uma indignação social contra as regalias que os presos de colarinho branco têm recebido nas unidades prisionais. Os que roubaram a merenda dos alunos das escolas públicas de São Paulo estão soltos.

Com a homologação das 77 delações da construtora Odebrecht a temperatura política vai subir. O presidente Temer insiste em conceder a Moreira Franco status de Ministro, com foro privilegiado no STF. Franco, apelidado de “angorá”, foi citado 34 vezes na lava-jato. Igualzinho ao Lula.


Durante a Revolução Francesa os nobres que estavam presos tentaram trair a França. Os jacobinos invadiram e mataram os aristocratas presos. Esse ato ficou conhecido como “Massacre de Setembro”. Isso não é nenhum exemplo, mas uma amostra histórica do limite da paciência popular.

Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)