Elites discutem apoio a Lula
Edélcio Vigna, doutor
Ciências Sociais/UnB
As elites dominantes estão discutindo o apoio a Lula. As confederações
industriais, as associações de banqueiros internacionais e as multinacionais de
serviços e investimentos estão recompondo suas posições com respeito as
eleições presidenciais de 2018.
As assessorias dessas empresas estão repensando os fatos políticos
ocorridos desde o impeachment de Dilma Rousseff. Para eles o jogo das grandes
elites foi o de substituir Dilma por Temer, para que este executasse as
políticas regressivas necessárias e, em seguida, voltar com Lula para que este retomasse
(ou retome) o modelo capitalista popular de consumo.
Dilma não poderia implementar as políticas recessivas, pois colocaria
em risco a candidatura de Lula, que preencheu as expectativas do mercado
financeiro e industrial internacional. A elite internacional teve que apostar
em duas linhas temerárias em tempos diferentes: colocar em marcha uma manobra
arriscada como a substituição de Dilma por Temer; e depois, impedir que Lula sofresse
(ou sofra) alguma sanção que o impeça de se reeleger em 2018.
Não interessa para as multinacionais o tipo de mercado nacional restritivo
que as políticas recessivas desenvolvem, porque não estimulam o consumo de
média e baixa renda. O mercado em vez de se expandir, ele se contrai impedindo
um lucro crescente no mercado interno. Os novos ricos, que se beneficiaram com
a expansão do mercado na época anterior, não capitalizam o mercado interno,
pois preferem fazer compras em Miami e na Europa.
Esse gasto no exterior, da nova classe endinheirada, prejudica o
desempenho das franquias internacionais e das multilatinas, que preferem a
volta do mercado consumidor de média e baixa renda. Diante aprovação da reforma
trabalhista, que era o maior empecilho, em termos de custos sociais, essas
empresas estão avaliando positivamente a volta de Lula, como uma retomada do
mercado consumidor, com juros baixos.
A elite internacional não confia nos nomes que estão sendo colocados
como candidatos a presidentes, independentemente de partido político. Lula já
fez um acerto, em 2004, com os grandes do mercado internacional e, por isso, é
um nome confiável, que cumpre os acordos realizados. Os demais nomes são
incógnitas, em termos de gestão política, e o mercado não suporta surpresas.
Neste contexto, de acordo com os analistas internacionais, Lula manteria
a margem de 30% de intenções de votos e não provocaria abalos internos no PT, uma
vez que sua corrente interna majoritária “Construindo um Novo Brasil”, não se
opõe à implantação de um modelo de mercado capital-consumidor.
Neste panorama, caso se concretize a candidatura de Lula, os demais concorrentes
terão poucas chances de vitória. Agora a disputa passa a ser jurídica e vai
continuar até a última hora, pois mesmo condenado Lula poderá recorrer e
garantir sua permanência no jogo eleitoral.
Os especialistas concluíram
que é preciso esperar a decisão do TRF, em Porto Alegre, que ainda vai analisar
os recursos do Ministério Público e da defesa de Lula. As convenções partidárias
que escolherão os candidatos serão realizadas a partir de 20 de julho, e Lula,
mesmo registrado, pode ser cassado pelo TRF. Caso concorra e ganhe a eleição
ainda pode ter seu diploma anulado. Só não pode ser cassado caso assuma a
presidência no dia 02 de janeiro de 2019.
A Ciência Política nos ensina que pouco se sabe sobre as inumeráveis
variáveis que interferem sobre o resultado final de um conflito, no qual
Maquiavel já não passa de um amador. Essa é uma disciplina, que não compete a
diletantes, é uma matéria em que uma das variáveis principais, no sistema
capitalista contemporâneo, não é a ideologia, mas o mercado internacional.
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