5 de fev. de 2017

Un viejo caminaba por las calles


Toquinho disse que percebeu que Vinícius de Moraes estava velho quando, em uma noite após o show, junto com artistas da nova geração que iam sair para uma noitada carioca e Vinicius falou que ia para casa assistir o seriado Baretta (seriado americano).
Alguns dizem que a velhice desponta quando as musicas do tempo de juventude emocionam. Quando uma pessoa lembra o amor de colégio que nem te notava, porque eras ingênuo y tímido.
És viejo quando se lembra das irmãs, que moravam na mesma rua, e aquela que te olhava não era a que você queria flertar. Usted aún mantiene el olor de las calles antiguas.
Paquerar e flertar, son términos diferenciados, dice una chica con ojos negros. Paquerar é um ato caçador, flertar é um ato romântico. Y usted bailaba la media luz, sintiendo la noche de suerte.  
Nos anos 70 o escurinho do cinema foi substituído pela discoteca. O Dancin’Days democratizou a beleza, todas se pareciam. Te encontré tan hermosa como las demás.
Por eso, se estas vivências surgem como lembranças, es un viejo experimentado. Y nosotros seguimos cantarolando uma trilha musical démodé. Pero, caminamos solertes y con un gingado senilmente amalandrado.
Acompanhado por múltiplos fantasmas, que sutilmente assopram recordaciones, revemos as ruas que nos perderam e que nos encontram no pátio abandonado da imaginação. No hay nada que ocultar, es un viejo de verdad.

Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)

Década das surpresa


É tempo de rever nossas certezas, de duvidar do que não se podia duvidar. Há tempo que os sinais vem se modificando. Estávamos em um tempo incremental. Agora, entramos em um turbilhão de mudanças imediatas e precisamos compreender essas alterações se não quisermos nos tornar obsoletos.
Quando temos a quase-certeza, lá vem a delação e o quase desmascara a certeza. As mídias estão levantando o véu, que ajudaram a cobrir a abjeção.
Herdamos a genética da escória do velho mundo. Toda uma galera de perdedores desembarcaram neste magnifico continente. Contaminaram o ciclo natural e impuseram a história deles, a dos degradados.
Esses somos nós. Enxotados do velho mundo, assim como os imigrantes de agora. Ondas de seres humanos desterritorializados, sem referência enquanto cidadãos e cidadãs. Os EUA e os países europeus criminaliza o neoimigrante. Nega-lhes a oportunidade que um dia lhes foi dada.
As mudanças são bem-vindas. É um tempo no qual o lema “Proibido Proibir”, dos tropicalistas, emerge resignificado, não mais contra a censura, mas a favor de um novo tempo, que ainda não se consolidou.  
Os seres chegaram ao limite e precisam que repensar o meio e a forma como vivem. O senso comum repete que somos passageiros, mas isso nunca foi tão evidente. Tão acachapante como na década que se seguirá.
Atingimos à dolorosa consciência de que o mundo não acabará. Que pena! Do alto do nosso egoísmo gostaríamos de que tudo se acabasse conosco. Porém, não há bomba que destrua o planeta. No caso de uma implosão, outro se formará e isso não depende de nós.
O tempo não existe para as coisas e para a natureza. Somos vítimas do tempo que criamos. Fazemos parte da natureza, mas fizemos de tudo para dela se apartar. Em vez de naturalizar a humanidade, tentamos humanizá-la. Como a natureza não é domável, salta agora qual cavalo selvagem.
A história que vamos testemunhar nas próximas décadas não poderá ser comparada com a que aprendemos nos livros escolares. Os grandes gestores das políticas atuais não são encantadores de cavalos, mas truculentos domadores do velho Oeste, que se valem da espora e do chicote.

Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)

O Brasil e a radicalidade


Há no processo político brasileiro um curioso paradoxo. A população exige avanços nas políticas públicas, mas apoia os partidos e medidas conservadoras.

O PT eleito para mudar o cenário de desigualdades se converteu em uma força conservadora. Sua função era desestabilizar a mesmice política e criar um novo cenário institucional, mas a ânsia de poder anulou sua força renovadora.

As eleições municipais de 2016 deverão montar as peças no tabuleiro das eleições presidenciais de 2018. Os eleitores ao escolher o prefeito e os vereadores irão pré-indicar quais serão os partidos que terão força política para concorrer à presidência da República e cumprir as exigências das ruas.

O PSDB se distanciou da socialdemocracia defendida por Franco Montoro, Mário Covas e assumiu compromissos mineiramente regressistas. O PMDB está envolvido com o PT em um abraço de afogado. Este quadro partidário possibilita a emergência de um aventureiro montado em um partido de aluguel, em 2018.

O que não se pode é anunciar a extinção da política. O esgotamento de um ciclo político abre oportunidades para intensificação das manifestações populares, sejam de direita ou de esquerda. Os protestos tendem a tornar mais acirrados caso as reivindicações não forem atendidas e, a repressão, mais violenta.

Este é o legado para o Estado. Que o poder Judiciário combata radicalmente a corrupção e colocar na cadeia os corruptos. Que o poder Executivo atenda as demandas da coletividade e não se deixe levar pelo brilho ilusório do poder. Que o poder legislativo recupere sua respeitabilidade.

Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)