Abaixo o quartel de
Abrantes!
Uma coisa pode ter certeza, o Brasil não será mais o mesmo
depois dos governos petistas. Para o bem ou para o mal a nação experimentou
formas políticas que percorreram do populismo-democrático à
democracia-tecnocrática. O país não deixou a fronteira da democracia, mas
também não avançou no sentido de uma distribuição de riqueza mais justa.
Desde o desmoronamento da ditadura militar, em 1982, a
população progrediu politicamente. Errados estão os que pensam que a juventude
está alienada do processo político. Basta observar as últimas manifestações
para ver o protagonismo juvenil. Foram os estudantes os primeiros a tomar as
ruas e serão os últimos a sair.
Os casos de corrupção que empobrecem a nação e roubam a
saúde, a educação e o emprego da população atingem com mais agressividade os
jovens. A indignação é o sujeito do aprendizado. Uma coisa é saber que roubam,
outra é vivenciar o roubo, mesmo como espectador.
O resultado do desvio de recursos públicos é a inflação, o
encarecimento da vida e a péssima oferta de serviços públicos. Isso enfraquece
a esperança, mas o resultado pode se inverter. O que é para enfraquecer pode
fortalecer. Os modernistas pensam assim. Somos fortes e vingativos como o
jabuti, escreveu Oswald de Andrade, no Manifesto Antropófago.
Na década de 1920 estávamos devorando a tradição cultural eurocentrista.
Hoje, estamos deglutindo os lideres partidários que pensam que nos enganam. Amanhã
vamos petiscar as elites que se julgam impunes. Estamos tomando o veneno da
cobra para ficarmos vacinados.
A nação que inventou o carnaval não pode ser triste. Alegria
é um produto de exportação brasileiro. Aristóteles filosofou sobre o riso, nós
o praticamos.
Por isso, caricaturamos tipos e inventamos verbos como
“malufar”. Em futuro próximo vamos “cunhar” outras expressões. Se pensam que
vamos ficar com um riso amarelo estampado na face, estão enganados.
Enganam-se aqueles que dizem que o brasileiro não te
memória. Os nossos déficits educacionais são imensos, mas parodiando Guimarães
Rosa, o espírito é a arma, Deus o gatilho.
Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)