A história é implacável. Melhor,
os historiadores é que escrevem a história, mas o fazem de acordo com sua posição
social. Assim, há a visão da elite e do povo, uma visão dos vencedores e dos
vencidos.
Por uma necessidade existencial me
formei em História e depois continuei a estudá-la. Tive o privilégio de me
formar no Festival de Woodstock, testemunhar a queda do regime militar e de dois
processos de impeachment.
No primeiro impeachment - o do
Collor - os historiadores apontam o consenso geral sobre a culpa e o crime de
responsabilidade. No segundo, o da Dilma, não havia consenso nem entre os
políticos, juristas e nem na sociedade. O crime de responsabilidade que era um
fato concreto subjetivou-se. Esvaneceu durante a fatigante discussão no Senado,
na mídia e entre as pessoas comuns.
Tantas leis e legislações foram
citadas, desenterradas e revividas que em vez de esclarecer, confundiram. A
repetição das perguntas levavam as cansativas mesmas respostas. As afirmações e
contra afirmações se afinavam como duas espadas a se duelarem.
No meio de cada palavra do
discurso estava à democracia como uma criança a brincar de esconde-esconde. Assisti
aos debates, resguardado pela tela da TV. O observador invisibiliza-se diante
da incerteza dos fatos.
Como historiador buscava uma
posição menos apaixonada, como intelectual de esquerda me indignavam os discursos
que se assemelhavam aos discursos de Iago. Os shakespearianos atribuem a Iago uma
longa lista de adjetivos: infiel, traidor, traiçoeiro, perfidioso, desleal,
sombrio, invejoso.
Marco Antônio, ao discursar
no funeral de Júlio César, disse ao povo que se estivesse disposto a levá-los ao
“motim e a violência, falaria mal de Brutus e de Cassius. Prefiro falar mal de
mim e de vocês do que destes homens honrados”, finalizou ironicamente.
Este artigo possui
algo de crítico e de histórico, mas não esconde a indignação do autor. Julga
sem pretender julgar e atribui crédito à geração de historiadores que virá depois
de nós.
Parafraseando Brecht
posso encerrar afirmando que aqueles que surgirão da maré em que perecemos que
se lembre dos tempos sombrios de que pode escapar, quando falar das nossas
fraquezas.
Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)
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