6 de dez. de 2016

A história é implacável


A história é implacável

A história é implacável. Melhor, os historiadores é que escrevem a história, mas o fazem de acordo com sua posição social. Assim, há a visão da elite e do povo, uma visão dos vencedores e dos vencidos.

Por uma necessidade existencial me formei em História e depois continuei a estudá-la. Tive o privilégio de me formar no Festival de Woodstock, testemunhar a queda do regime militar e de dois processos de impeachment.

No primeiro impeachment - o do Collor - os historiadores apontam o consenso geral sobre a culpa e o crime de responsabilidade. No segundo, o da Dilma, não havia consenso nem entre os políticos, juristas e nem na sociedade. O crime de responsabilidade que era um fato concreto subjetivou-se. Esvaneceu durante a fatigante discussão no Senado, na mídia e entre as pessoas comuns.

Tantas leis e legislações foram citadas, desenterradas e revividas que em vez de esclarecer, confundiram. A repetição das perguntas levavam as cansativas mesmas respostas. As afirmações e contra afirmações se afinavam como duas espadas a se duelarem.

No meio de cada palavra do discurso estava à democracia como uma criança a brincar de esconde-esconde. Assisti aos debates, resguardado pela tela da TV. O observador invisibiliza-se diante da incerteza dos fatos.

Como historiador buscava uma posição menos apaixonada, como intelectual de esquerda me indignavam os discursos que se assemelhavam aos discursos de Iago. Os shakespearianos atribuem a Iago uma longa lista de adjetivos: infiel, traidor, traiçoeiro, perfidioso, desleal, sombrio, invejoso.

Marco Antônio, ao discursar no funeral de Júlio César, disse ao povo que se estivesse disposto a levá-los ao “motim e a violência, falaria mal de Brutus e de Cassius. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados”, finalizou ironicamente.

Este artigo possui algo de crítico e de histórico, mas não esconde a indignação do autor. Julga sem pretender julgar e atribui crédito à geração de historiadores que virá depois de nós.

Parafraseando Brecht posso encerrar afirmando que aqueles que surgirão da maré em que perecemos que se lembre dos tempos sombrios de que pode escapar, quando falar das nossas fraquezas.

Edélcio Vigna, doutor em Ciências Sociais
edelcio.evo@gmail.com
(Publicado na Folha de Ourinhos)


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